sexta-feira, 6 de agosto de 2010

VALE A PENA LER DE NOVO?

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O Pequeno Príncipe - Sérgio Vaz
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Na semana passada fui participar de um sarau com os alunos da escola Paulo Afonso em Capuava, que fica em Embu das Artes, na divisa com Cotia. Além de mim também foram convidados o Gaspar (Záfrica Brasil), Zinho Trindade e o Baltazar (Preto Soul).
O Alunos da 5ª e 6ª série também prepararam uma apresentação para o dia, sob a supervisão de alguns professores, inclusive do Wagner, meu amigo.
A Manhã de poesia já estava servida como merenda no pátio da escola e, para minha surpresa, a molecada repetia várias vezes. Até aí, além do presente da vida, nada demais. Um poema solo aqui, um poema em grupo ali, uma música à capela, e o frescor da infância se esfregando nos meus olhos.
Em um determinado momento a professora chama um garoto, para se apresentar. Tímido, como poucos, recitava sua poesia com bastante nervosismo, o suficiente para que alguns dos alunos começassem a rir da sua declamação. Sei que não riam por maldade, crianças apenas riem.
De Súbito senti minha alma desprender do corpo, numa rápida viagem para o passado. Vi-me ali no seu lugar, com 12 anos, sendo punido pela timidez por apenas estar vivo na hora errada. “A Timidez é uma lei muito severa a ser cumprida...”
De volta ao futuro, ainda consegui vê-lo em sua batalha contra o mundo. Como já disse, enquanto alguns riam ele recitava, como quem expulssasse o silêncio do corpo.
Parecia que lhe faltava o ar, as palavras lhe traiam, as vírgulas abriram fuga, os olhos caminhavam devagar demais para tanta pressa de sair de cena. As mãos tremiam por todo o corpo.
Nós poetas torcíamos por ele, os educadores gritavam pelos olhos por ele.
E de repente o vento parou de soprar para que o barulho não o atrapalhasse.
Os Pássaros debruçados nas árvores acompanhavam-no em si bemol.
Uma nuvem calou a camada de ozônio para que ele pudesse respirar melhor.
Assim como um milagre, que só as crianças sabem o segredo, pude vê-lo refletido nos olhos úmidos das pessoas, e o riso, como se recebesse uma ordem do universo, partiu para uma outra dimensão.
O mundo inteiro parou para ouvir o mais lindo poema da vida, a coragem de enfrentar as dificuldades.
Ao terminar, ele riu, agradeceu aos aplausos e saiu como um nobre cavaleiro que acaba de derrotar um dragão numa batalha sangrenta, e sem nenhuma gota de sangue pelo corpo.
Eu ali como um fraco, voltando ao passado, tendo pena dele, e ele ali, como um príncipe guerreiro enfrentando o futuro, e de canja, deixando a lição pra gente fazer em casa, de que só os fortes sobrevivem.
Se um dia eu crescer quero ser como ele: gente.

18 comentários:

  1. Gostaria de ter presenciado esse momento único.
    Ainda luto com meus dragões. E agora, sabendo que outro igual também o faz, o melhor, o fez com tanta coragem, sinto-me mais preparada.
    É necessário trazer á tona a criança que pensamos ter abandonado, mas que no fundo, nunca deixou de existir dentro de nós. Mta luz pra esse ser, que da forma mais humilde e simples levou a todos uma pouco mais de paz e determinação.

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  2. Que lindo.... imaginei toda a cena...bravo menino poeta!!! As palavras são espadas!!! Vencem qualquer dragão.

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  3. Querido Sérgio,

    Eu também fui uma poetisa tímida na adolescência. Eu tinha muitos motivos para ser admirada na escola (desculpe-me a falta de modéstia... rs), mas eu era discriminada, ou por tirar boas notas ou pelo meu jeito careta de ser. Isso me fazia uma excluída do grupo, o que me causava dor e sofrimento. O tempo passou e fico feliz porque nada me corrompeu, eu consegui ser eu mesma. Hoje a timidez não incomoda mais e tenho muita sorte por ter "amigos" virtuais sensíveis como você. Parabéns pelo relato!

    Beijos de luz,

    Aline***

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  4. Sensacional!
    Deu pra sentir a emoção do lugar nas palavras!

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  5. Fiquei emocionada! Lindo.
    Parabéns pela sua sensibilidade Sérgio Vaz, que perpetuou esse momento único.

    Abraço,
    Pamella Indaiá

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  6. Lindo..Linda Cena..fiquei aqui Imaginando a cena...

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  7. Obrigada por me fazer chorar com a beleza da sua poesia, Sergio!

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  8. Me arrepiei de emoção e simplesmente desenhei completamente toda a cena, toda sua beleza, toda a intensidade e toda vida deste garoto e seu olhar desafiador para os colegas ao final de sua declamação. Eu também quando crescer, quero ser como ele: gente!

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  9. Eu sou mais um que desde novo me mostrava muito tímido quando o assunto era a minha poesia, hoje isso ainda acontece, pois a timidez faz parte da minha natureza, porem diferente de antes hoje sou tímido por ser tímido e não mais por ser poesia. Vamos mudar para que um dia desde o início os pequenos não vejam a poesia como algo para se mostrar tímido e os da mesma idade que o vêem vão se assombrar e admirar aquele que tão novo já é poeta.

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  10. RT @azevedothiago81 @poetaserviovaz Amei seu paralelo do Pequeno Príncipe, estou lendo para minha filha, mas pintei todo o quadro que você desenhou com palavras

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  11. É verdade! muitas vezes nós nos sentimos entimidados pelos olhares das pessoas, ou o que elas vão pensar dagente, e nos esqueçemos que o mais difícil é enfretar o nosso próprio medo e os nossos traumas, realmente queria ter presenciado esse momento.
    "O PEQUENO PRÍNCIPE"

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  12. Parabéns por eternizar um momento tão importante para o pequeno poeta e para nós que podemos sentir a emoção atravez de suas palavras
    bjooo

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  13. Mermão muito boa essa poesia
    sempre admirei seu trabalho
    "como 1 príncipe guerreiro enfrentando o futuro de canja deixando a lição p gente fazer em casa de q só os fortes sobrevivem"

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  14. Esse poema tornou-se um dos meus preferidos. Podemos aprender muito com a simplicidade de uma criança. É bom sentirmos tudo o que você descreveu ao vê-lo driblar toda a timidez, e o mais importante é o desejo que fica de que ...
    "Se um dia eu crescer quero ser como ele: gente."
    Sem dúvidas, é uma lição de vida! :)

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  15. Esse poema tornou-se um dos meus favoritos. É tão lindo como a simplicidade de uma criança pode nos ensinar tanta coisa...
    Que possamos sempre ter esse desejo vivo dentro de nós, o desejo de que ...
    "Se um dia eu crescer quero ser como ele: gente.
    Sem duvidas, é uma lição de vida!

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  16. Q sensibilidade e q lição, Sérgio, vc é um orgulho brasileiro e certamente, esse garoto tb!!!!

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  17. Quem somos, quantos somos e como vivemos... Sou supervisora do censo 2010 e, dia desses recebi um recenseador do Embu, o das Artes.
    Ele está muito disposto. Deixo aqui meu desejo de que ele faça um bom trabalho e diga quem somos nós...

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  18. Sensacional, senhor poeta!

    Sou fã do pequeno príncipe e fã dos seus textos.
    A sua sensibilidade para perceber a situação do garoto e transformar isso em texto (e que texto!) nos sensibiliza também.
    Todos fomos crianças um dia. Pena que nem todos se lembram disso.
    Meus parabéns! Continue nos emocionando.

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