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foto: joão wainer
Miltinho.
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Nasceu
Jéferson Antunes Cosme,
Assim constava na certidão.
No primeiro prontuário da polícia
Já tinha mudado de nome,
Era vulgo Miltinho, ladrão.
Era 157, 171, 12 e tudo mais,
Tantos números
e nem sequer sabia matemática.
Sabia todos os artigos,
Mas nada de português.
Filho de pai desconhecido
Aprendeu tudo na prática.
Tinha mãos leves
E a consciência pesada.
Dedo mole
Coração duro.
Olhos claros
Caminhos escuros.
Só sentia luz
Nas sombras.
Ódio calibre 38.
Sabia matar
Sem morrer de medo.
Riso econômico
Choro alheio, farto.
No coração
Quatro sólidas paredes,
Sem chaves, sem túneis.
Heróis de verdade?
Só Oxalá e lampião.
Viciado em alta velocidade
Chegou cedo no céu,
cravejado de balas
Dentro de um carro importado.
A mãe,
No velório,
Sóbria,
Chorava feito criança
Chorava feito mãe.
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Sérgio vaz
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*do livro Colecionador de pedras (global editora)
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