segunda-feira, 5 de julho de 2010

SE VOCÊ ACHA A ERA DUNGA RUIM, A MINHA ÉPOCA ERA MUITO PIOR

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foto: João Wainer
Gol contra - Sérgio Vaz
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No meu tempo de moleque ninguém tinha uma profissão em mente para se apegar ao futuro, todos, sem exceção queriam ser jogadores de futebol. E olha que naquela época nem dava tanto dinheiro assim. Mas não sei se pelo romantismo, pela magia ou simplesmente pela falta de perspectiva... sei lá, só sei que todos nós queríamos ser jogadores de futebol. Eu apesar da idade confesso que ainda quero.
Mas tempo passou, o Morumbi e o Maracanã envelheceram em mim e a memória, este estádio vazio, toma dribles maravilhosos da lembrança, e tudo que me lembro foram os gols perdidos. Perdi muitos gols cara a cara com o goleiro, por isso não sou jogador, por isso não sou doutor. Tomei muita vaia do destino.
Não lembro de nenhum amigo desta época que tenha sequer passado na peneira de algum time profissional, poucos viraram doutores e uns tantos não lerão este artigo, se é que vocês me entendem.
A Violência sempre fez muitas faltas no nosso jogo, e quase todas por trás. Dói só de lembrar.
Apesar dos intervalos, lembro-me de partidas inesquecíveis, dessas que começavam pela manhã e seguiam tortuosas pela tarde, interrompidas apenas pelo almoço e o café das três.
São momentos inenarráveis passados com estes parceiros de time, esses meninos sábios e imortais, sem presente e sem futuro deslizando os pés descalços pelo chão.
Hoje em dia, aquele campinho de terra que esculpimos com as nossas próprias mãos é um grande cemitério, e muitos deles estão ali, enterrados com seus sonhos, antes mesmo do jogo acabar. Outros, por desrespeitarem as regras cometeram pênaltis desnecessários (?), e, por ordem dos juízes, foram mais cedo para o chuveiro.
Para minha tristeza muitos ainda continuam a cometer faltas, sem medo de tomar cartões vermelhos ou amarelos, sem se importar com a força do adversário, sem se importar com a cor da camisa, sem se importar com os derrotados, se importando apenas em vencer, e vencer a qualquer preço. Por isso, muitos são substituídos com o jogo em andamento, alguns, antes mesmo de tocar na bola.
Às vezes, quando a dor sai do vestiário e a saudade entra em campo, faço um minuto de silêncio, deixo uma lágrima rolar e jogo por eles a prorrogação.


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3 comentários:

  1. Nossa, você diz tantas verdades nesse texto e como sempre eu fico arrepiada. É muita poesia. bjooo

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  2. Como sempre com textos e crônicas muito boas, me fez lembrar os tempos de pés descalços nas ruas de terra do Silvio Sampaio, parabéns, abç.

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  3. Por essas e outras você têm jogado no time certo!Um time, falange, quadrilha, banca, ou simplesmente família!
    Acho que mesmo com pouco tempo que visito os campos de várzea da Zona Sul, vejo esse sentimento de família no olhar de cada um que chega contigo no "Batidão Arena".

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