quinta-feira, 18 de março de 2010

ORNITORRINCO

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Nike Brasileira:
Crianças trabalham em usinas de carvão
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ORNITORRINCO
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Jamilton
Nasceu no Pará
Numa usina de carvão.
Como o pai, seu Vavá,
Também começou aos seis
Com uma pá na mão.
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Cresceu sem vitaminas
Cheirando fumaça
E inalando dioxinas.
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A brasa
Queima os sonhos
A pele
Os pés
E as mãos.
Só não queima
O catarro preto
Que sai do pulmão.
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Aos onze,
Doente e mutilado
Depois de tanto trabalhar,
O menino churrasco
Por invalidez
Vai se aposentar.
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Carne de segunda,
Este bicho,
Não tem pêlo
Não tem pena
Só osso.
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Os dedos,
Unidos pelo fogo,
Parecem uma pata.
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Também pudera
Ele é filho
De um animal estranho: gente.
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Sérgio Vaz
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*do livro "Colecionador de pedras" Global Editora

Um comentário:

  1. É muito dificil vermos nossas crianças sem infância. O que se pode exigir deles como adulto? Se como ser humando, não se tem seus direitos preservados, respeitados?
    Esse poema diz muito sobre essa doença que passa de geração em geração, chamada indiferença. Não só em usinas, mas em ruas, avenidas, viadutos. Muitos deles morrem, sem nunca ter vivido...
    Viviane

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