domingo, 30 de maio de 2010

SARAU RAP II

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Povo lindo, povo inteligente,
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como pra gente nunca é, nem foi nada fácil, na quinta-feira no aniversário de três anos de atividades do sarau rap nem tudo aconteceu como o planejado, mais como ainda não tinha os fatos detalhados, como o que vocês vão ler abaixo, não tinha postado sobre o assunto.
No dia da festa, a Ação Educativa, que tem um projeto na Fundação Casa, convidou vários adolescentes para participarem com a gente desta comunhão, mas aí... só lendo o relato do Wagner da Brasa, que entre outros guerreiros e guerreiras estavam lá fora e foram protagonistas da paradas e para entender melhor.
Antes só queria dizer que concordo com a atitude deles, pois já fiz muitas oficinas e saraus dentro da Fundação Casa, e sei de muitos relatos de violência contra estes jovens, que o Estado tem por dever, não só resoocializar, mas fazer com que o maior número deles não cheguem lá. Escolas melhores, menos presídios.
Pra falar a verdade fiquei mal pra caralho com o ocorrido, triste mesmo, não só pela festa que ficamos planejando por um mês, pelas pick ups, pela sintonia, pelo bolo surpresa que acabou não rolando, por grupos que não conseguiram cantar (tem jovens rapper/poetas que estão nesta comigo desde o início), mas parece que quando a gente está quase conseguindo, aí vem o sistema e acaba com tudo, e o que é pior, ainda dividindo a gente, ou, o que sobrou da gente.
Mas demorou, nossa cara é enfrentar os problemas, que não são poucos, o tempo é o senhor de todas as respostas, e a verdade surge todos os dias ao nascer do sol, muitas vezes a gente não vê, mas ela está lá.
Não cheguei agora, faz uns 45 anos, não são eles, e nem isso que vai me derrubar. Já teve vários, e sempre aparece mais, isso faz parte, magoa, mas já acostumei, quem é realmente do corre sabe do que estou falando.
Vou fazer a minha parte, e do meu jeito lutar contra o sistema, nunca fui de falar mal de ninguém pra conseguir estar na cena, aliás, goste ou não goste, faço parte dela, e ninguém apaga uma história de 20 anos, pode até tentar, mas não apaga.
Na minha bíblia está escrito: "Não confunda briga com luta. Briga tem hora para acabar e luta é para uma vida inteira."
Nossa cara é ficar junto e Ação Educativa cobrar uma posição da Fundação Casa e saber se não houve violência contra os jovens, e se sim tomarmos atitudes conjuntas.
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Na moral, apesar de tudo e de todos, ainda guardo a lembrança da gente tudo ali comungando a poesia, sorrindo, recitando, cantando... JUNHO TEM MAIS PORRA!
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Sergio Vaz
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leia o relato do Wagner:
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Salve povo,
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Ontem dia 27/05, aconteceu na Ação Educativa, mais uma edição do Sarau Rap, edição em comemoração dos três anos de atividades de mais esse quilombo. A festa foi linda, a casa estava cheia, todos animados celebrando mais uma conquista, fruto de muito trabalho coletivo. Diferentemente do que aconteceu no Sarau Rap ao longo desses três anos, ontem no final do sarau, as poesias foram acompanhadas pelo som das pick ups, velhas companheiras dos MCs, mas ontem tava liberado porque era festa. Tinha tudo o que é necessário para uma celebração memorável e assim foi a maio parte do tempo. Também participando do sarau, estavam alguns adolescentes que estão cumprindo medidas de “internação” na Fundação Casa (antiga FEBEM), unidade Abaeté. Eles estavam ali, pois como alguns já sabem, a Ação Educativa, desenvolve um trabalho educacional, por meio da arte, dentro das unidades da Fundação Casa e após ter sido contemplada como Ponto de Cultura a Ação Educativa vem tentando desenvolver uma prática regular de participação de alguns desses adolescentes nas atividades do Ponto de Cultura (Rinha dos MCs, Sarau Rap, Suburbano no Centro, Samba da Comunidade). Tudo corria na maior tranqüilidade, até que por volta das 22h00, quando os meninos da Fundação Casa estavam indo embora, um desses adolescentes, tentou fugir antes de ser colocado dentro do carro que os transportavam, o que já era de se esperar, pois como todos sabemos, ou podemos imaginar qualquer um que esteja privado de sua liberdade, por qualquer motivo que seja, tentará reconquista-la, nem que para isso ele tenha que viver fugindo, e aí depois a gente pode discutir essa abstrata idéia de liberdade, mas o fato é que, a tentativa desse garoto foi frustrada por alguns funcionários da Fundação que os acompanhavam no sarau. Porém ao prenderem novamente esse garoto, esses funcionários se utilizaram de toda a violência que sua ignorância e falta de preparo lhes pôde proporcionar. No entanto nesse momento, vários participantes do sarau, já estava na calçada em frente a Ação Educativa, e quando esses funcionários chegaram no carro, que estava também na frente da Ação Educativa, um desses funcionários deu um tapa na cara do garoto que tentou fugir, enquanto lhe chamava de um nome pouco digno de ser ouvido da boca de um funcionário que trabalha em uma instituição, que em tese, deveria zelar pela reeducação desses jovens, e ele disse: “entra no carro seu arrombado”. Amigos leitores que acompanham esses blog, nesse momento a chapa esquentou, vários dos participantes do sarau foram pra cima desses funcionários, para debater a situação de agressão contra aquele menino, daí foi um tal de empurra daqui, grita de lá, porém chegou a turma do deixa disso, e o tempo só não fechou de vez por conta disso. Daí a situação seguiu com a tentativa de fuga de mais dois meninos, porém essas também foram tentativas frustradas pelo funcionários e dentro de poucos minutos chegaram algumas viaturas da polícia militara, aí os funcionário da Fundação viraram umas feras, a partir desse momento eles queriam fazer denúncias, alegando que a ação dos participantes do sarau facilitou a tentativa de fuga dos meninos, porém quando ele ouviu um “sim, vamos todos para a delegacia, inclusive você, pois nós estamos te acusando de violência contra um adolescente” ele ficou um pouco mais calmo, ou receoso, e também novamente chegou a turma do deixa disso para “acalmar” a situação. Porém agora ficam duas questões. A primeira é, se aqueles funcionários agrediram violentamente aquele menino, ali publicamente, o que será que acontece dentro das dependências da Fundação Casa? E seguindo essa questão, fica uma segunda, o que nós educadores, militantes preocupados com o bem-estar de nossas crianças e adolescentes podemos fazer para interferir nessa realidade?

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