sexta-feira, 9 de abril de 2010

MANIFESTO DA ANTROPOFAGIA PERIFÉRICA

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Manifesto da Antropofagia periférica - Sérgio Vaz
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A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor.
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Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.
A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade.
Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção.
Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.
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A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
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A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.
Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão.
Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeiras.
Da Dança que desafoga no lago dos cisnes.
Da Música que não embala os adormecidos.
Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.
A Periferia unida, no centro de todas as coisas.
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Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.
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É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que armado da verdade, por si só exercita a revolução.
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Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.
Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.
Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.
Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles ? “Me ame pra nós!”
Contra os carrascos e as vítimas do sistema.
Contra os covardes e eruditos de aquário.
Contra o artista serviçal escravo da vaidade.
Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.
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A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
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Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.
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6 comentários:

  1. Queria ter escrito esse texto.
    Salve, Poeta. É nóis.

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  2. Um dos textos mais lindos e informativo que adoro ler, vez ou outra, me pego lendo esse texto.
    Vida longa aos teus escritos,Poeta!
    Abraços!

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  3. Sem dúvida pela palavra, pela atitude,pela dignidade,pelo inconformismo, pela ação e tantas outras ações esse é o real a ser percorrido , pois o ideal ficou nas vozes de outrem.Parabéns Sérgio Vaz!

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  4. salve, ségio,

    da loura desposada do sol e dos verdes mares de iracema, saúdo o poeta e cidadão.
    porreta, irmão.

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