sexta-feira, 10 de junho de 2011

PARA OS QUE PRATICAM O AMOR

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P/ Sonia, Edu e Kaká,

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Os Brutos também amam - Sérgio Vaz
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Era um domingo de inverno, há quase trinta anos, quando eu conheci o amor pela primeira vez. Chegou em mim discretamente como se não quisesse fazer barulho para não mes espantar nem causar estranhamento.
Enquanto dançava com os olhos fechados e o peito aberto desfilava pelo baile, sem sair do lugar, carregando nos braços aquela que seria a lembrança mais feliz da minha vida: o primeiro amor.
Não recordo bem se era Marvin Gaye (let’s get it on) ou Bee Gees (Reaching out) que rolava nas pick ups, só consigo lembrar de estar ali, com os lábios ansiosos pelo fogo desconhecido, implorando aos céus que aquele momento, que ainda nem havia acontecido, nunca acabasse.Sem o menor traquejo com a poesia, e devoto da Santa adolescêscia das bocas desamparadas, recitava em meus pensamentos coisas do tipo: “Deus por favor faça minhas pernas pararem de tremer”. Se alguém um dia se encontrar com deus, e se realmente ele existir, pergunte , ele vai confirmar.
Eu ainda não a tinha beijado. Pelo menos não pessoalmente, mas em sonho... com os olhos...Enquanto a música brincava de ser feliz às minhas custas, colado aquele anjo, fui me deixando levar cantando baixinho o refrão ao seu ouvido: “letis guere riron...”. Letis guere riron?????!caramba, se não sei inglês hoje, imagine com quinze anos, coitada.
A Adolescência tem cheiro de almíscar, sei disso porque esse era o perfume que ela usava nesse dia, e durante muito tempo esse aroma permaneceu impregnadao na minha memória.Tirando o cheiro de terra depois da chuva, almíscar tem cheiro de anos incríveis.
Sentindo o aroma da vida fui lentamente virando meu rosto para o encontro daquela boca linda, sorrateiramente, como um colibri que rouba saliva da flor.Havia pensado neste momento há semanas, mais precisamente, quinze anos.
Nunca vou esquecer quele beijo. Até porque foi o meu primeiro pra valer, no rosto não conta, sem amor então... E segundo, porque quase quebrei o sorriso dela.Beijei-a por uma tarde inteira com todas as bocas que tinha o meu pequeno coraçãozinho de menino apaixonado. Que tarde. E que boca.
Beijei-a com todos os meus cincos sentidos, e quase fiquei sem os sentidos por conta disso. Quase que morro no meu primeiro dia de vida.
Com os olhos fechados, beijei-a como quem agradece por estar vivo.Por conta desta troca divina de saliva, e na dúvida, nunca mais cuspi no chão.
Nos anos setenta, época mais brava da ditadura no Brasil, eu estava ali, com a cara cheia de espinhas exercitando a minha revolução: o primeiro amor.
Resolvi escrever sobre isso porque acabo de receber o convite de casamento de dois grandes amigos. E como sou testemunha desse amor quero lembrá-los que por mais belo que seja a lembrança do primeiro beijo ou do primeiro amor, nada, absolutamente nada, é mais importante que o último.
Ah, também lembrei de uma outra coisa, os dias não envelhecem. E todo dia é pra sempre.

4 comentários:

  1. Sergio falei com vc na 4ª passada la no Zé Batidão, pois é to aqui, cara acredito muito na vida e nas vidas. Assim como aquele presente que eu ganhei de vc no primeiro dia em que estive no sarau, com certeza conhece-lo foi um presente de Deus maior ainda. Há ainda muitas aguas pra rolar, e muitas pedras para eu colecionar mas eu não tenho duvida que o seu coração não é de pedra, e se ele for, com certeza é uma das pedras mais nobres que eu ja pude ver. Só uma pessoa de Coração Livre e Aberto poderia escrever um texto assim. Um grande abraço a vc e sua Familia. Gabriel Rocha.

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  2. As sensações do primeiro amor foram dignamente representadas nessas palavras e, de quebra, o texto não me indicou somente o nome da música, ele deu um play em “Let’s get it on” na minha cabeça, o que resultou em uma verdadeira trilha sonora na minha leitura. Texto maravilhoso (obrigado por me lembrar do “cheiro de terra depois da chuva”, eu havia me esquecido…).

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  3. Sérgio, muito obrigada por compartilhar este texto maravilhoso! Alegrou minha noite. Estou no meio de uma aula chatíssima na faculdade.

    Beijos!

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