..Povo lindo, povo inteligente,
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a vida não pára, neste domingo tivemos uma reunião para decidir algumas coisas sobre a nossa revista e sobre a 3º Mostra Cultural da Cooperifa, além é claro, um bate-papo regado a churrasco e cerveja na laje do Zé Batidão. progresso.
De lá saindo voando com o Cocao (Versão Popular) para o Carioca Clube participar, junto com Crônica Mendes, do Show do Teatro Mágico.
Queria agradecer o Fernando Anitelli pelo convite para recitar a poesia "Porém" no show, adoro o grupo e adoro seu público que é muito generoso com os convidados que sobem ao palco. Parece clichê, mas... A interação do grupo e com seu público é realmente mágico. Não tem outra palavra para descrever.
E esta química rola entre todas as pessoas que fazem parte do grupo, da produção a quem fica na lojinha vendendo Cds e Dvds do grupo, ou quem cuida do som.
Como já tinha recitado "Os miseráveis" em duas outras oportunidades, ontem li "Porém" que é uma dos poemas que mais gosto. Espero que eles tenham gostado.
É isso. A Poesia não pára.
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abs.
SV
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Porém
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Queria ter vivido melhor,
Porém a mediocridade sempre me foi farta e generosa
Nos caminhos que escolhi para viver.
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Queria ter sido mais alegre,
Porém a tristeza sempre foi companheira fiel
Nos dias intermináveis de abandono.
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Queria ter amado mais as pessoas que conheci
Ou que fingi conhecer,
Porém na maioria das vezes, eu também não me conhecia.
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Queria ter andado mais livre,
Porém, algemado à ignorância, perdi muito tempo
Tentando voar sem sequer saber andar.
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Queria ter lido mais livros,
Porém, analfabeto de ousadia, passei muitos anos
Enxergando pelos olhos adormecido de outras pessoas.
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Também queria ter escritos mais poemas
Do que bilhetes pedindo desculpas,
Porém, as palavras sempre me vieram como culpa
E quase nunca como estrelas.
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Queria ter roubado mais beijos e abraços
Das meninas que andavam desprotegidas,
Protegidas pela magia da infância,
Porém, cresci muito cedo, e a timidez sempre me foi
Uma lei muito severa a ser cumprida.
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Queria ter pensado menos no futuro,
Porém, o passado simples nunca foi o melhor presente
E a eternidade sempre me pareceu coisa de gente que tem preguiça de viver.
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Queria ter sido um homem mais humilde
Porém, a vaidade e a ganância sempre me cercaram
De mimos e coisas que até hoje não sei para que serviram.
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Queria ter pregado mais a paz,
Porém, como um covarde, gastei muita munição tentando atingir amigos e desconhecidos que não usavam coletes à prova de balas nem blindados no coração.
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Queria ter sido mais forte,
Porém rir dos vencidos e bajular os mais ricos
Sempre me pareceu o caminho mais curto
Para o esconderijo secreto das minhas fraquezas.
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Queria ter dito mais a verdade,
Porém a mentira sempre foi moeda de troca
Para comprar o respeito e a admiração das pessoas fúteis
De almas vazias.
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Queria que o mundo fosse mais justo
Porém, avarento de nascença, fui o primeiro a esconder o sol na palma da mão, antes que o vizinho o fizesse.
E mesquinho por vocação escondi as noites com lua
Para que os poetas não a cortejassem.
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Queria ter dito mais besteiras,
Porém fui desses idiotas amantes das proparoxítonas
E sujeito oculto nos bate-papos de botecos de esquinas,
Onde a vida não acontece por decreto.
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Queria ter colhido mais flores,
Porém o medo de espinhos afugentou a primavera.
E outono que sempre fui,
plantei inverno quando a terra pedia verão.
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Hoje queria ter acordado mais cedo,
Porém temo que pra mim
Seja tarde demais.
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Sérgio Vaz