Luva de pelica - Sergio VazSou um alvo fácil para os meus inimigos
Assino poeta, não só quando escrevo, mas quando vivo
escrevo coisas no papel que na boca viram guizo
olhos fracos e na boca sempre um sorriso.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
moleque do vento de coração atrevido
ando nas ruas como se fossem de vidro
chego no inferno feito anjo sem juízo.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
de manhã acordo num céu sem abrigo
carente de abraços e punhos imprecisos
trilho sem saber odiar, o amor improviso.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
mesmo com uma tristeza que não manda aviso
estou sempre nu vestido com cara de paraíso,
só que a linha do rosto tem
cerol com mármore moído.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
tenho asas nas pernas e
raíz no umbigo
braços largos eum peito cheio de amor indeciso
faço tudo errado e não sei onde piso.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
não sei para onde vou e pareço preciso
se multiplico não somo, somos, eu diviso
quando sua lama afunda, me chama, eu deslizo.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
invejo a vida não quem vive o vivido
na cara dura passo dias duros e saio liso
porque sou burro, se não quero,
empaco, persigo.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
hemorrágico sangue bom A negoativo
verborrágico sutil sem os dentes do siso
não engulo sapos apesar do queixo de vidro.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
o novo bate, sou fóssil, mas não me esquivo
dócil tenho medo da chuva não do perigo
se cospem raios, no ócio, tomo suco de granizo.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
quando a traição é posto na mesa, regugirto e mastigo
e ainda que desenterre sua alma para o meu cavar meu jazigo
ando leve feito pluma no chumbo em que vivo.
Sou um alvo fácil para meus inimigos
se não me acertam, na certa te digo:
ando livre e o mundo é meu abrigo
presos a mim, se arrastam, me seguir é quase um castigo.