Fábrica de asas -
Sérgio Vaz
“ Adubar a terra
com número e letras
asas e poemas.
Para colher lírios,cravos e alfazemas.
Agricultor,
o bom mestre sabe,
que espinhos e pétalas
fazem parte da primavera.
Porque ensinaré regar a semente semafogar a flor ."
com número e letras
asas e poemas.
Para colher lírios,cravos e alfazemas.
Agricultor,
o bom mestre sabe,
que espinhos e pétalas
fazem parte da primavera.
Porque ensinaré regar a semente semafogar a flor ."
A Vida é algo mesmo muito engraçado, agora pouco, antes de começar
a escrever este texto em homenagem aos educadores e educadoras que conheço, me
lembrei de uma coisa da minha adolescência, e que eu nunca entendi bem direito,
é que eu não gostava de estudar, mas adorava a escola. Pena não ter sido o
contrário, mas...
A escola para mim sempre fora um lar. Minha classe, como se fosse o quarto que
sempre sonhei, mas que nunca tive. O Pátio, a sala de estar. E o melhor de
tudo, com todos os meus amigos morando junto comigo.
Às vezes ter parentes nem sempre é ter uma família, e para muitos,
a hora da merenda era quase uma santa ceia.
Não lembro de ter sido bom em alguma matéria, da para contar nos
dedos as notas "dez" que eu tirei, também não fui o pior de todos,
meu boletim era tipo colorido, vermelho e azul, e de acordo com cada série,
umas cores se destacavam mais do que as outras.
E por gostar tanto da escola e não gostar de estudar, repeti de ano duas vezes,
na 3ª série do primário e na 7ª série do ginásio, parece pouco, mas para quem
só fez o colegial, é como se o futuro andasse em direção ao passado. É como se
a gente colasse da pessoa errada.
Minha matéria preferida sempre fora o recreio, e a bagunça era uma prova para o
qual não precisava estudar, e se ficar em silêncio enquanto escrevo este texto,
sou bem capaz de ouvir a molecada descendo as escadas depois do sinal, como uma
manada enfurecida -entorpecida pela magia da infância-, correndo pra casa. Ou
quem sabe, fugindo do lar.
Num tempo em que a merenda para alguns era a única refeição, na periferia,
“lar” e “casa” eram duas coisas extremamente diferentes, e se nós, os filhos da
dor, desenhávamos nosso momento com giz colorido, em casa, muitas famílias
escreviam a alegria a lápis, para que ficasse mais fácil para a tristeza
apagar.
Outra coisa que gostava muito na escola era dos professores, só naquele tempo
eu não sabia, descobri somente anos depois, quando não estudava mais.
Lógico que naquela época da ditadura, alguns mais pareciam torturadores do DOPS
que professores, e tudo isso, com o consentimento dos pais, os cúmplices.
Uma vez uma professora, que mais parecia uma madrasta de contos de
fada, puxou o meu cabelo com tanta força, que até hoje me dói o couro cabeludo.
E sabem por que? Porque estava desenhando um relógio à caneta, no pulso,
enquanto ela explicava alguma coisa, quando percebeu a minha desatenção, me
perguntou as horas, e eu respondi. Na hora errada. Ui.
Traumatizado, nunca mais usei relógio em minha vida. Por isso que
às vezes atraso, adianto, nunca sei a hora de chegar.
Hoje em dia, recitando poesia nas escolas públicas do país, descobri que estes
que puxavam o cabelo das crianças, não existem mais, foram engolidos pelo
dragão do tempo, e foram substituídos por uma trupe de guerreiros e guerreiras
que mesmo abandonados pelo estado, insistem em educar os nossos filhos. Não é
da hora?
Autodidata, aprendi a sofrer por conta própria, e aprendi também que é possível
construir o universo longe da universidade, só que demora mais, quando não se
tem asas para voar.
a) Lição de casa se aprende na escola.
b) O Professor é aquele que confecciona asas. E voa junto.
c) Ensinar é regar a semente sem afogar a flor.
D) Quem faz lição de casa colhe castelos.
Poéticamente falando, todas as alternativas estão corretas.
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