segunda-feira, 31 de maio de 2010

DUGUETO MANDA POESIA

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O POEMA
Dugueto Shabazz
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O poema é casado
Com Marginália no papel
Rude dama cortejada
Pelo verso fiel
Nascido e criado
Livre pelas ruas
Porem originado
Há muitas e muitas luas
Pacto do submundo
Gíria de cadeia
A prece de um vagabundo
A quem a sociedade odeia
Raciocínio bandido
Vindo da fome e da dor
Cérebro aturdido
Do franco rimador
Tendência a rebeldia
Agressão verbal
Por uma rima vadia
Assume ser criminal
Seu modo violento
Desde cedo causaria
Por esse comportamento
Foi para a diretoria
Arma do delito
Lâmina sueca
O poema perito
Em arrombar a biblioteca
Letra codificada
Formando uma rede
Mensagem pichada
Nas carteiras e paredes
O poema tem raiva
Mas tem amor também
Não abandona a marginalia
Marginalia é seu bem
Ela é Maria Bonita
E ele é Lampião
Ela por ele na fita
E os dois juntos no pião
Alterou gramática
Criou dialeto
A regra ortográfica
Batizou de papo reto
A história do branco
A história do negro
Do griot africano
Ao filósofo grego
Ao mestre demagogo
Citou um sociólogo
E disse o pedagogo:
“isso é caso pro psicólogo”
A escola expulsou o poema
Que se revoltou
Ainda mais com o sistema
Que sempre discriminou
O gênio satírico
Sarcástico terrorista
Delinqüente lírico
Fora da lei, anarquista
Andou por quebradas
Circulou por becos
Conheceu bocadas
Tragou molhados e secos
O poema
Não admite ser enquadrado
Debate em rima o problema
Deixa o fardado bolado
Nem sob tortura
Perde sua identidade
Foi posto na viatura
Desacato a autoridade
O poema tem raiva
Mas tem amor também
Não abandona a marginalia
Marginalia é seu bem
Ela é Maria Bonita
E ele é Lampião
Ela por ele na fita
E os dois juntos no pião
Ele tem uma missão
Responsa no oratório
Autodidata na lição
Popular saber notório
Já nasceu louco
Pra confundir os sábios
Diz muito com o pouco
Que sai de seus lábios
Escrito certo
Por linhas tortas
Deixa boquiaberto
Pela forma que se comporta
Vagou pelo mundão
Afora, adentro
Do luxo dos fundão
Ao lixo do centro
Cortejou insanidade
Cheirou pólvora e antrax
Versou na faculdade
Pra caras mais barbudos que Marx
Sobre filosofia
Dugueto e O Capital
Rimou O mundo de Sophia
Em recital
Aprendeu ensinamento
De conhecimento oral
Em seu envolvimento
Em movimento de sarau
Conheceu poemas outros
Tão loucos ou mais
Toda quarta tem encontro
Dos poemas marginais.
O poema tem raiva
Mas tem amor também
Não abandona a marginalia
Marginalia é seu bem
Ela é Maria Bonita
E ele é Lampião
Ela por ele na fita
E os dois juntos no pião

2 comentários:

  1. É Ridson, pode passar o tempo que for, a poesia estará sempre presente nesses corações vadios...Dugueto é a Zica em forma de Homem, no olhar agente sente, nas palavras agente entende!

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  2. É isso mesmo guerreiro! Mandando bem demais! como sempre! Por ser seu fã sou suspeito pra falar... Se bem que esse poema agrada até seus inimigos, eles vão morrer de inveja! Aquele abraço irmão!

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