terça-feira, 6 de abril de 2010

Você escolhe, ou é escolhido?

.
.
VALE QUANTO SONHA - Sérgio Vaz
.
No meu registro de nascimento constam algumas informações ao meu respeito, acho que no de vocês também. Lá tem meu nome e sobrenome, os nomes dos meus pais e do responsável pelo cartório que no momento não lembro o nome.
Quando alguém quiser saber onde nasci, a cidade e o estado, e só conferir no meu primeiro currículo pessoal.
Vai ver que além da minha cor, parda, as cores dos meus olhos e dos meus cabelos, tem o dia, o mês e o ano em que vim ao mundo conhecer a humanidade.
Algum tempo depois, baseado nessas informações deram-me um documento chamado identidade, com número e tudo, acompanhada das minhas digitais. Sem ela ninguém se responsabiliza sobre a minha existência, sem ela sou um indigente, mais um número para a assistência social. Sem ela eu não consigo a minha subsistência, nem você.
E para muitos, e durante muito tempo, a vida é apenas esse amontoado de números e letras acompanhado de uma foto 3 x 4. Acho que deve ser por isso que todo mundo fica feio nessa foto.
Mas há aqueles que sem prazo de validade não admitem a escravidão do acaso, e percebem que não são apenas números e datas acompanhados de uma foto amarelada. E diante disso, do inexplicável que é estar vivo, constroem sonhos com as próprias mãos, e estão sempre à procura do fogo. Da luz. Do silêncio sábio da escuridão.
Eles são documentados pelo tempo, pela nossa memória, eles nascem raros como a generosidade, e apesar da certeza da morte, eles não perecem e renascem a todo instante. Em todos os lugares.
São os que realmente acreditam que há um céu na terra, independente da religião que acreditam, por isso não pregam, nem são pregados, todavia estão sempre com os braços abertos. Não disponíveis a cruz, mas ao abraço.
Não gastam o preciso tempo com nomes ou sobrenomes, chame-os do que quiserem, eles virão. Porque eles não estão, eles são.
Surgem aos poucos, à tarde, pela manhã, ou à noite. Tanto faz se é domingo ou sexta-feira, dia dez, trinta de dezembro ou fevereiro.
Não se sabe ao certo de onde eles vem e estão no mundo todo, dando gás aos desavisados. São brancos, negros, amarelos, gente de todas as cores, dores e lugares.
Aquarelas nos olhos enxergam o mundo colorido, apesar do preto e branco que impera.
Para eles os sonhos são frágeis, e ao menor toque de realidade podem-se quebrar.
Presos à liberdade, riem do cotidiano.
Enquanto a maioria dorme, é essa gente que roda a manivela da humanidade.
Enquanto uns recitam o CIC e o RG, eles querem colocar o polegar na história, e sabem que ter documentos ou ser documento, é uma escolha sua.
Você vale quanto sonha, porque viver é isso, ou você escolhe ou é escolhido.
.
.

4 comentários:

  1. Agora Vaz pensa numa pessoa que tá ansiosa pra ler seu próximo livro sou eu! Que angustia Vaz!

    ResponderExcluir
  2. De doer, mas isso aí! Disse tudo... duro é se livrar desse condicionamento que nos colocam desde cedo pra não escolher. mas a gente chega lá!

    ResponderExcluir
  3. Muito bom o texto.
    Salve aqueles que sai, de onde supostamente pela vida adormeceriam, para ir a caminho do que deseja e acredita.
    Salve aqueles que, independente da luta pessoal do dia a dia, vai em frente para somar com aqueles que desacreditam no decorrer da caminhada.
    Salve, salve aqueles que tem como principal característica a generosidade.
    Salve aqueles que estão sempre prontos para o abraço (de todos e causa).
    Pra mim, esse texto diz muito...além da verdade nele contida... os personagens, eu também os tenho no meu arquivo pessoal.
    Viviane

    ResponderExcluir
  4. Sergio,parabéns pelo blog, pela iniciativa e acima de tudo, por fazer a diferença nesse mundão de meu Deus.Permita-me compartilhar este post em meu blog?http://maisdemimemmim.blogspot.com/
    Aguardo seu retorno!
    Forte abraço!
    Vanessa Yurie

    ResponderExcluir