terça-feira, 23 de março de 2010

DO LIVRO COLECIONADOR DE PEDRAS

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Segredos noturnos
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A noite
guarda meus segredos,
meus medos
e um restinho de dúvida
que ainda não me furtaram.
Sob o cárcere da escuridão
Minha poesia
Trafega pela madrugada
Tecendo sombras miúdas
Para o abrigo da solidão.
À noite
As estrelas,
Funcionárias públicas do universo,
Iluminam o sono operário
Das formigas mal remuneradas
Que trazem na garganta
Um nó de silêncio rouco
Que não se rompe na
Alvorada.
O verso,
Que não se ajoelha
Ante a noite calada
Não dorme na seda
Deita na espinha
Da rosa molhada.
Os vira-latas
Que roem o osso,
Ladram o bife alheio
Que farta no pescoço
Da mulher que dorme
Com o dono da carrocinha.
Um gato,
de pêlo macio
de gravata e paletó,
mais parece um vampiro
na jugular da rapaziada
sugando sem dó,
o dinheiro das sete vidas
Que aposta na madrugada.
Uma lua,
À míngua no horizonte,
É hostil ao falso poeta
Que renuncia ao poema pobre
Pra dormir
Com a rima rica
Que cobra uma fortuna
pra gozar.
O herói
Das causas breves
Descansa sua covardia
Num travesseiro
Que o condena por cada
Vítima que ele finge ajudar.
Os parasitas
Escondem-se atrás da simpatia
E bebem no mesmo copo
Em que cospem
O discurso do bom amigo.
As prostitutas
Já não precisam mentir,
Se o dinheiro é verdadeiro
O amor também é.
E nada é mais claro
Que o negrume das horas.
A insônia
É refém da consciência
E a azia
precisa sempre de um cigarro
para alimentar a nicotina.
O bar aberto
Faz todo sentido
Pra quem não sente mais nada.
Ao sair
Deixe a luz acesa
À noite
É quando o dia
Já não enxerga mais nada.
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Sérgio Vaz

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