sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

RENAS DE TRÓIA - SÉRGIO VAZ

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Renas de Tróia - Sérgio Vaz
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Para delírio dos comerciantes deste país, chegamos finalmente na semana das festas natalinas. Nem no dias das mães consegue-se vender mais do que o natal. É uma época para dar e ganhar presentes. Época que se mede o afeto das pessoas pelo tamanho do presente que se ganha. Ou dá.
Por onde quer que você ande você pode escutar os sinos badalarem, e de quebra, a cantora Simone importunando os nossos ouvidos com o chato daquele refrão: “então é Natal, então é natal, então é natal...”, como se a gente ainda não soubesse. Só de lembrar...
Para falar bem a verdade eu nunca gostei do natal, não sei bem o porque, mas não gosto. Acho que deve ser porque nunca tive natal na minha infância, tampouco na adolescência.
E também nunca gostei do velhinho de barba, o tal de Noel.
Ele, pra nós, sempre foi uma pessoa extremamente deselegante, nunca aceitou o convite para visitar a nossa casa.
Dizem as más línguas que ele não gosta de criança pobre e tem medo de circular na favela com suas renas que voam. Prefiro o Ano novo.
Ninguém pode me culpar por não gostar do papai Noel. Todos que eu conheci tinham barba, cabelo e barriga falsa, e quase nenhum era velhinho. E na sua grande maioria eram homens desempregados à procura de bico para sobreviverem. Mais ou menos como em lanchonete Fast Food americana: gente que é paga pra sorrir, mesmo sem alegria no coração.
Ninguém pode ser feliz ganhando o que eles ganham.
Dizem as más línguas que a figura do bom velhinho foi criado sob encomenda ao artista e publicitário Habdon Sundblom por uma grande empresa de refrigerante mundial. E Assim nascia mais um personagem americano que dominaria o mundo.
Não gosto desse clima natalino porque ele me soa falso. As pessoas me soam falso. E eu também soo falso.
Por conta desse clima de falsa solidariedade vou ter que abraçar até quem eu não gosto, e ser abraçado por quem não gosta de mim. No natal a gente finge que ama e acredita que é amado. Nada mais triste.
Não é amargura, ou coisa de poeta que não tem chaminé, só não entendo o natal, esse “jeito americano de ser”, que as pessoas acreditam, e que eu não tenho.
Não gosto do natal porque também é uma época que neva muito no Brasil, não suporto o frio, meu aquecedor está sempre quebrado.
Mas gostando ou não gostando, já é natal e não posso fazer nada contra isso.
Mesa farta , mesa falta, em tudo quanto são casas. Em umas, Cristo não se manifesta, em outras não foi convidado.
Aos que puderem, tenham boas festas.
Ah, antes que eu também me “esqueça”:
- Feliz aniversário, Jesus.
Dizem por aí que é o aniversário dele.
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4 comentários:

  1. tem que admiti segião esse texto é zika memu
    tanto que postei no meu blog quando li ele a cerca de um ano atraz!!! se quise coferi!!!

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  2. Também não ligo muito pro natal, na infância nem lembrava e pra que lembrar? Se o ritual não cabe no bolso. Uma vez mandei uma carta pro papai noel, nem me lembro o que escrevi, provavelmente pedi sapato, roupa, algo assim. Não culpo meus pais por isso é condição imposta e não opção, a nossa realidade não engloba tais ações ditas normais, padrões. Aniversário comemorei o primeiro quando fiz 14 anos, não que ninguém lembrasse. Minha mãe exausta de trabalhar na casa das madames às vezes até esquecia minha idade. Mas é uma fofa, hoje resgato minha família de outra forma, o sentimento rola verdadeiro. E eu sei que se não fosse por essa guerreira D. Maria eu não estaria aqui hoje.
    Ontem um homem que dormia na rua me desejou feliz natal, não falei nada, fiquei olhando pra ele tentando decidir uma resposta e quando ele perguntou, a senhora acredita no natal? Em jesus? Sei lá pensei comigo, olhava pra ele e ... acabei ficando com a afirmação de que acreditaria mais se ninguém passasse fome ou dormisse na rua como ele.

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  3. ai, de quebra tambem cresci sem natal, sem presentes, sem santa ceia, pra piorar a neurose esta data coincide com meu aniversário, duas vezes sem presente é osso, mas sobrevivi.
    esse seu texto quebrô as pernas mano, muito axé e um "feliz natal" é nóis Sergio Vaz!

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  4. Ainda acho importante o Natal. Não pelo papai noel, brinquedos importados e essa baboseira toda. Mas... Assim, existem brasileiros novos e outros, mais antigos. Sou dos mais antigos. E isso fica mais claro, quando a gente vê um natal magro em casa. É a família. Acostumada com festa de reis, folia de reis, de trocas de presentes (leitão, galinha, feijão etc) que envolvem todas raças do mundo, Reis magos, que nunca assinaram em baixo de mágoa alguma. Época para ressucitar o boi (bumbá), leal amigo do homem. A figura do palhaço, capeta, bate-bola, velho b-boy dos trezantonte. Lembrar com tristeza a destruição do chafariz das lavadeiras e da igreja do rosário dos homens pretos de são paulo. Construídos por homens pretos sem outra opção: religião afro-indi-portu-poli brasileira, pra salvar a alma lá nos antigos. Paz, amor e felicidade: gaspar, baltazar, melchior - sete caroços de romã para dar sorte! coisas dos tempos velhos... Se agora somos crentes, tudo bem também - sem quebrar nada dos outros, né?
    boas festas a tod@s - Poeta Xandu

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