terça-feira, 16 de novembro de 2010

COLECIONADOR DE PEDRAS - 20 ANOS DE POESIA


Nas livrarias,
no Sarau da Cooperifa e na minha mochila
.
.

Porém

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Queria ter vivido melhor,

Porém a mediocridade sempre me foi farta e generosa

Nos caminhos que escolhi para viver.

Queria ter sido mais alegre,

Porém a tristeza sempre foi companheira fiel

Nos dias intermináveis de abandono.

Queria ter amado mais as pessoas que conheci

Ou que fingi conhecer,

Porém na maioria das vezes, eu também não me conhecia.

Queria ter andado mais livre,

Porém, algemado à ignorância, perdi muito tempo

Tentando voar sem sequer saber andar.

Queria ter lido mais livros,

Porém, analfabeto de ousadia, passei muitos anos

Enxergando pelos olhos adormecido de outras pessoas.

Também queria ter escritos mais poemas

Do que bilhetes pedindo desculpas,

Porém, as palavras sempre me vieram como culpa

E quase nunca como estrelas.

Queria ter roubado mais beijos e abraços

Das meninas que andavam desprotegidas,

Protegidas pela magia da infância,

Porém, cresci muito cedo, e a timidez sempre me foi

Uma lei muito severa a ser cumprida.

Queria ter pensado menos no futuro,

Porém, o passado simples nunca foi o melhor presente

E a eternidade sempre me pareceu coisa de gente que tem preguiça de viver.

Queria ter sido um homem mais humilde

Porém, a vaidade e a ganância sempre me cercaram

De mimos e coisas que até hoje não sei para que serviram.

Queria ter pregado mais a paz,

Porém, como um covarde, gastei muita munição tentando atingir amigos e desconhecidos que não usavam coletes à prova de balas nem blindados no coração.

Queria ter sido mais forte,

Porém rir dos vencidos e bajular os mais ricos

Sempre me pareceu o caminho mais curto

Para o esconderijo secreto das minhas fraquezas.

Queria ter dito mais a verdade,

Porém a mentira sempre foi moeda de troca

Para comprar o respeito e a admiração das pessoas fúteis

De almas vazias.

Queria que o mundo fosse mais justo

Porém, avarento de nascença, fui o primeiro a esconder o sol na palma da mão, antes que o vizinho o fizesse.

E mesquinho por vocação escondi as noites com lua

Para que os poetas não a cortejassem.

Queria ter dito mais besteiras,

Porém fui desses idiotas amantes das proparoxítonas

E sujeito oculto nos bate-papos de botecos de esquinas,

Onde a vida não acontece por decreto.

Queria ter colhido mais flores,

Porém o medo de espinhos afugentou a primavera.

E outono que sempre fui,

plantei inverno quando a terra pedia verão.

Hoje queria ter acordado mais cedo,

Porém temo que pra mim

Seja tarde demais.

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Sérgio Vaz




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