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A fina flor da malandragem
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Duzão é piloto, e o que da fuga à essa malandragem. Na madrugada, a bordo de um Mercedes, dirige certos por vias tortas.
Aninha já passou o ferro em várias madames, dizem por aí que pra mais de vinte.
Cabeção tem olhar de rapina e um iceberg no coração, quando entra no banco já vai direto no caixa.
Colorau não age na quebrada, gosta de fazer mansão.
Lu ganha a vida distribuindo suas ideias através de um pó branco comprimido, a molecada fica alucinada. Nada contra quem mexe, mas ela nunca meteu a mão no pó dos outros.
Vavá não pode ver carro parado que leva, se não der na chave leva nas costas.
Lourival mete o cano desde criança, o pai se virava no alicate, e nunca teve medo de cerca elétrica.
Como teve problemas de berço, Mariana pega o filho dos outros e devolve por uma quantia mínima.
Julião põe medo em muita gente, também pudera, já enterrou vários com uma pá na mão.
Salete limpou a casa de Sonia, quem deu a fita foi a Rose, que se bobear limpa até as casas dos parentes.
Marcio resgatou Sales da cadeia, e saiu do presídio pela porta da frente, ninguém fez nada.
Elizabeth quase não ri, é uma espécie de gerente da boca, na rua dizem que ela é a patroa.
Nego Jan vende tudo que pega: relógio, TV, DVD, Eletrodomésticos em geral, carro, moto, corrente de ouro, roupa de marca, e demais mercadorias. Sua lábia é mais afiada que lâmina de gigolô.
Zóio tem problemas com a injustiça e está no semiaberto, passa o dia na oficina e a noite dorme no 3º andar. Quando pode, Guida e preto Will, parceiros de caminhada, o visitam no domingo.
Luciana não tem medo de sangue, já ajudou a cortar vários desconhecidos, muitos cagam de medo de morrer na mão dela.
Wilsinho não tem medo de nada, já passou o revólver até no carro da polícia.As pessoas acima são suspeitas de ter a coragem de trabalhar, e enfrentar o dia a dia com a dignidade que só o sofrimento ensina, e por mais simples que sejam, nunca se evadiram da responsabilidade de lutar.
A malandragem fica por conta de quem lê.
Vaz!!!O "malandro mor"
ResponderExcluirQue conhece como ninguém a VERDADEIRA identidade de cada um de nós!
Você consegue ser INÉDITO todos os dias!
Abraço.
No texto estão descritos verdadeiros criminosos; porém, há certa malandragem que não tem nada a ver com crime, pois não lesa nem mata ninguém. É a malandragem do dia a dia do povo trabalhador, esse que dribla seus problemas com boa dose de cerveja, praia e música.
ResponderExcluirSergio o "cabeça" da turma que comanda a malandragem ... faz reuniões as quartas feiras, onde passa a verdadeira realidade aos malandros, tendo o privilégio de mostrar à eles que a poesia pode transformar os pensamentos, ações e sentimentos...
ResponderExcluirParabéns pelo brilhante pensamento...!!!
bom demais o texto! paulada!
ResponderExcluirjá dizia aquele som do Fluxo..
"se vira como pode, artesão da própria sorte"
Essa formação de quadrilha não tira do convívio e nem precisa pagar "gravata" pra defender do artigo.
ResponderExcluirÉ a formação de quadrilha do progresso, que enxerga todos como seres humanos e é pelo humano, pela pessoa. Transforma a visão das pessoas que são "atacadas" por essa bandidagem, elas se tornam mais gente, mais sadias.
Ser humano precioso que puxa o "bonde" do progresso na "disciplina de cadeia".
Acho que "A fina flor da malandragem" um nome excelente pro seu próximo livro! né não?
ResponderExcluirR. Canto
É uma sensibilidade madura e que sensibiliza. E, não sei ao certo o motivo, mas me lembrou de outro poeta:
ResponderExcluir"Nesta vida, morrer não é difícil.
O difícil é a vida e seu ofício."
parabéns pelo texto, que você continue sempre forte nesse ofício de viver poesia!
Sem palavras!
ResponderExcluirSurpreendente e criativo até o último!
Parabéns!
É impressionante!!!
ResponderExcluirmuito bom o texto
ResponderExcluir"talento nato"
by: @soguinel
Como já disse Sábato Magaldi sobre o dramaturgo Plínio Marcos, é como uma fatia quente retirada de um cenário original. Pessoas que estão na luta, submetidas à condição que vivem, ao "entre-lugar" que pertencem nessa nossa sociedade hegemônica, que reividicam o direito ao grito, que batalham pela sobrevivência. Lutam por espaço, por voz e por vez. Maginalizadas. Subalternas.
ResponderExcluirÓtimo texto! Representação de sensibilidade social.
Carin Louro.
Maravilhoso, Mestre!
ResponderExcluirAí eu vejo o cotidiano de um motorista de ônibus, uma passadeira de roupas, um office-boy, um pedreiro, uma professora, um catador de sucata, um encanador, uma babá, um coveiro, uma faxineira, um agente penitenciário, uma dona de casa, um vendedor de objetos usados, um mecânico, uma enfermeira e um funileiro...
Muito bom mesmo!
Sérgio Vaz é isso: uma nova surpresa a cada ponto, vírgula ou reticências...
Loko hein titio!
ResponderExcluir"A malandeagem fica por conta dos olhos de quem lê"
Mais uma imortal!
Me lembrei bastante daquele texto ridículo que o Luciano Hulk lançou na Folha quando roubaram o Rolex dele.
ResponderExcluirTodo cheio de avaliações moral, ele viu muita maladragem e crucificou o ladrão.
Mas o tapa de luva de pelica veio logo em seguida com o texto genial de Ferréz.
Vcs lembram disso?
Achei os textos aqui nesse site: http://www.desenvolvimentistas.com.br/desempregozero/2007/10/luciano-huck-versus-ferrez/
Caralho, eu me arrepiei muito no final do texto. Está de parabéns.
ResponderExcluirFazia tempo não via algo tão surpreendente. Manja filme que a gente vê de novo, de trás pra frente e continua boquiaberta? É mais ou menos isso...
ResponderExcluirMassa Vaz! Tiro certeiro, como sempre e a qualidade da bala cada vez melhor (se é que isso é possível...)
ResponderExcluirbeijão e saudades de uma ida ao Sarau, prá rever esses amigos tod@s e tú também.
beijo no coração,
natale
Quanto menos gravata tem o malandro menos vive na malandragem e somente este malandro sem-gravata do Sérgio pra descrever esta vida tão bem quanto neste texto
ResponderExcluir"Lourival mete o cano desde criança" - hahahahaha!
ResponderExcluirVaz... malandro nato!
Lembra ontem!!, tem gente normal!!e tem gente que não que não é normal!!, só os que não é, tem essa clareza!!, vai segurando!!!muito boa!
ResponderExcluirSalve, meu poeta! Só quem conhece a fundo nossa realidade tem o poder de dançar com as palavras impondo o ritmo que quiser a elas.
ResponderExcluirEu, que trabalho com o pó de giz comprimido e tento fazer a alegria da criançada, gostaria de pedir sua autorização para usar o poema em uma das minhas aulas. É possível?
Grande Beijo
Canela
É preciso mais que malandragem para entender um malandro e .
ResponderExcluirSó quem já esteve dentro do beco-sem-saída sabe como a malandragem é sedutora. Ela, muitas vezes, é a parada final do oprimido. O derradeiro passo. Complicado.
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirEm uma sociedade entupida de esteriótipos, vale sempre lembrar que a malandragem está nos olhos de quem vê. Milhões de brasileiros sendo vítimas das vistas grossas de um pequeno grupo que controla a informação, dita conceitos, forma opiniões, aliena e assim marginaliza, excluí.
Parabéns Sérgio!
Defendo que grande parte dos "marginais" são, na verdade, marginalizados. A malandragem está nos olhos de quem lê e a crueldade, nas mão de quem detém o poder
ResponderExcluirBeleza, Sérgio. Crueza, Sérgio.
ResponderExcluir"A malandeagem fica por conta dos olhos de quem lê"
ResponderExcluircomo sempre quebro tdddddd !!!! mestre...
Que texto precioso.Muitos são os que não veêm, muitos são os que não percebem, e nem imagina qual é cartada para enfrentar seu dia-a-dia. Ser malandro... enfrentar o sofrimento árduo do trabalho, manter a alegria suando na pele, aceitando o que consegue com a luz que amanhece todos os dias, sem permitir a tristeza do olhar alheio!
ResponderExcluirSimplesmente fantástico, Sérgio!
ResponderExcluirSem palavras mestre!!!
ResponderExcluirIncrivel, obrigado pela inspiração sempre!!!
E Sérgio Vaz o vira-lata da poesia muda a cara da periferia todas as quartas feiras e por onde passa sacudindo palavras,chaqualhando idéias e incomudando multidões.Me identifiquei no texto,no tráfico de idéias.Obrigada por me incluir nesta gangue, conte comigo.
ResponderExcluirSimplesmente Maravilhoso!
ResponderExcluirParabens pela sensibilidade, pela poesia e os textos sempre!!!
sem palavras... quem vê pensa né?
ResponderExcluirnão canso de dizer...feliz por fazer parte!
Mano, eu só percebi do que realmente se tratava no fim do texto, aí fui ler tudo de novo e tudo ganhou um novo sentido.
ResponderExcluirparabens pela escrita ai
Abrç
"Mas o malandro pra valer, não espalha, aposentou a navalha, tem mulher e filho, e tralha, e tal. Dizem as más línguas que ele até trabalha, mora lá longe e chacoalha num trem da central" Chico Buarque.
ResponderExcluirAmei tanto que levei aos meus alunos...que também curtiram...e assim espalhamos a malandragem pelo mundo...
ResponderExcluirParabéns!