sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

RENAS DE TRÓIA - SERGIO VAZ


Renas de Tróia - Sérgio Vaz

.
Para delírio dos comerciantes deste país, chegamos finalmente na semana das festas natalinas. Nem no dias das mães consegue-se vender mais do que o natal. É uma época para dar e ganhar presentes. Época que se mede o afeto das pessoas pelo tamanho do presente que se ganha. Ou dá.
Por onde quer que você ande você pode escutar os sinos badalarem, e de quebra, a cantora Simone importunando os nossos ouvidos com o chato daquele refrão: “então é Natal, então é natal, então é natal...”, como se a gente ainda não soubesse. Só de lembrar...
Para falar bem a verdade eu nunca gostei do natal, não sei bem o porque, mas não gosto. Acho que deve ser porque nunca tive natal na minha infância, tampouco na adolescência.
E também nunca gostei do velhinho de barba, o tal de Noel. Ele, pra nós, sempre foi uma pessoa extremamente deselegante, nunca aceitou o convite para visitar a nossa casa.
Dizem as más línguas que ele não gosta de criança pobre e tem medo de circular na favela. Prefiro o Ano novo.
Ninguém pode me culpar por não gostar do papai Noel. Todos que eu conheci tinham barba, cabelo e barriga falsa, e quase nenhum era velhinho. E na sua grande maioria homens desempregados à procura de bico para sobreviverem. Mais ou menos como em lanchonete Fast Food americana: gente que é paga pra sorrir, mesmo sem alegria no coração. Ninguém pode ser feliz ganhando o que eles ganham.
Dizem as más línguas que a figura do bom velhinho foi criado sob encomenda ao artista e publicitário Habdon Sundblom por uma grande empresa de refrigerante mundial. E Assim nascia mais um personagem americano que dominaria o mundo.
Não gosto desse clima natalino porque ele me soa falso. As pessoas me soam falso. E eu também sôo falso.
Por conta desse clima de falsa solidariedade vou ter que abraçar até quem eu não gosto, e ser abraçado por quem não gosta de mim. No natal a gente finge que ama e acredita que é amado. Nada mais triste.
Não é amargura, coisa de poeta que não tem chaminé, só não entendo o natal, esse “jeito americano de ser”, que as pessoas acreditam, mas que eu não tenho.
Não gosto do natal porque também é uma época que neva muito no Brasil, não suporto o frio, meu aquecedor está sempre quebrado.
Mas gostando ou não gostando, já é natal.
Mesa farta , mesa falta, em tudo quanto é casa. Em umas Cristo não se manifesta, em outras não foi convidado.
Se puderem, tenham boas festas.
Ah, antes que eu também me “esqueça”:
- Feliz aniversário, Jesus.

12 comentários:

  1. Concordo plenamente que o Natal é a época da falsidade. As pessoas ficam o ano inteiro maltratando umas as outras pra que quando chegue dezembro fiquem se fingindo de boazinhas, solidárias, fraternas e etc. Depois que passa essa "festividade" cada um tira a sua própria máscara do "bom velhinho".

    Abraço

    ResponderExcluir
  2. Deixando de lado a questão comercial o Natal é uma época em que as pessoas se mostram mais amáveis, amorosas e tolerantes. O que eu não entendo é o que as demais épocas do ano fizeram de tão ruim para não merecerem os mesmos sentimentos e atitudes.

    ResponderExcluir
  3. E o Menino Jesus? nem me fale... Há muito tempo ele já foi substituído pelo urso polar da Coca-Cola ou pelo sr.gordinho com o saco cheio de presentes. As pessoas já não vêem o Natal como o nascimento de Cristo e sim como dia em que as lojas ficam abertas até tarde, as pessoas compram, compram, gastam, gastam e no outro dia trocam e devolvem...HOHOHOOOO.
    ABRAÇO.

    ResponderExcluir
  4. É IGUAL FESTA DA EMPRESA, TODO MUNDO QUEIMA O OUTRO O ANO INTEIRO, DAI NO FIM DO ANO VEM ESSA DE SORRISO E ABRAÇOS E PRA VARIAR MEU NIVER É NO NATAL RSSSSS, 2 MOTIVOS PRA PASSAR RAIVA!

    ResponderExcluir
  5. Explodem todas as contradições da nossa sociedade doente. Para fazermos nossas crianças felizes, ou pelo menos para que não se entristeçam, sentindo-se rejeitadas - as entregamos ao grande sonho falso da sociedade de consumo. Natal é quando mais as pessoas se abraçam e sorriem. E é quando mais pessoas tomam porres, infernizam a vida de suas famílias e se suicidam... ao sentirem o vazio das suas vidas. Podíamos combater a falsidade consumista criando um movimento de, ao invés de dar presentes materiais, aproveitar o Natal para distribuir poesia como presente. Homem Arara

    ResponderExcluir
  6. Muito bom o seu texto. Mas, não sei se é um éríodo de falsidades, para falsidades, ou as pessoas mostram aquilo que elas não são. Muito boom e interessante.Estou lhe convidando a visitar o meu blogue e se possivel seguirmos juntos por eles. Estarei grato esperando por voce lá
    Abraços de verdade

    ResponderExcluir
  7. Concordo plenamente contigo Colega ....até porque tivemos uma infancia pobre onde o bom e velho papai noel numca apareceu e os nossos pais ficavam numa saia justa sem dinheiro para nos dar aquele brinquedinho que a midia nos fazia desejar . É Sergio com certeza o nosso Natal numca foi parecido com o de uma novela da globo ....Fui seu vizinho ...joguei contra seu time o estrelinha ...e lancei meu primeiro livro uns meses antes de vc ...abraços

    ResponderExcluir
  8. Não gosto do clima de consumismo exacerbado, muito menos da ideia de felicidade comprada e das gentilezas artificiais. Entretanto, a mim conforta saber que há tanto tempo alguém disse o óbvio sobre o que todos nós precisamos: amor.
    Nessa época, ainda que de modo superficial, as pessoas tentam se lembrar que é do humano amar e buscar ser amado... Um ótimo Natal para você, Sérgio. Que você seja cercado de afetos verdadeiros (ainda que à distância)e pelo carinho que seus leitores nutrem por você.
    Beijos
    Cláudia

    ResponderExcluir
  9. Por isso que não sinto o clima do Natal, porque a cada ano que passa a falsidade e o interesse se manifesta na sua forma mais visível e nítida.

    ResponderExcluir
  10. Só tenha uma palavra da dizer do seu texto: FODAAAA!!!!

    ResponderExcluir
  11. gosto muito desse texto, mas o que realmente vc escreveu e que virei sua fã foi "Novos Dias".. vale apena dar uma olhada nos videos abaixo, a história das coisas (parte 1 e 2), para refletir nessa época onde a maioria das pessoas se importa apenas com o consumo: http://www.youtube.com/watch?v=ZpkxCpxKilI&feature=related
    http://www.youtube.com/watch?v=ZgyNw5pIXE8&feature=related

    quem sabe vc nos presenteia com mais algum texto!!! Um abraço!

    ResponderExcluir